Essa é a clássica pergunta que a maioria faz antes de iniciar uma narrativa. Eu digo o seguinte: o começo, em uma narração, se possível, deve despertar no leitor o desejo de continuar lendo a história até o fim. Vou dar dois exemplos. Um dos mais famosos contos de Machado de Assis, Missa do Galo, começa assim: “Nunca pude entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos, contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite”. Já se cria no primeiro parágrafo um suspense, uma expectativa sobre a relação que ocorrerá entre o narrador-personagem, ainda na adolescência, e a personagem da mulher de trinta anos.
Um outro conto, que também começa de forma envolvente, é “A Beleza Total”, de Carlos Drummond de Andrade, do livro “Contos Plausíveis”: “A beleza de Gertrudes fascinava todo mundo e a própria Gertrudes. Os espelhos pasmavam diante de seu rosto, recusando-se a refletir as pessoas da casa e muito menos as visitas. Não ousavam abranger o corpo inteiro de Gertrudes. Era impossível, de tão belo, e o espelho do banheiro, que se atreveu a isto, partiu-se em mil estilhaços”.
Há todo um toque mágico, próximo do fantástico, perpassando toda a narrativa, que explora muito bem a linguagem metafórica e poética. Desde a primeira linha ficamos enfeitiçados com a beleza de Gertrudes.
Então, o importante é planejar a narrativa e já iniciá-la aproximando o leitor dos fatos que forem narrados e mexendo com a sua emoção. Não se trata de um texto frio, mas criativo, literário.
Jaime Leitão é professor de redação, articulista e escritor.
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